belíssima voz da cantora Bárbara Eugência com seu novo trabalho.
mas mora em São Paulo desde 2005 e foi na paulicéia que ela iniciou sua
carreira musical efetivamente de maneira excepcional: em 2007 foi convidada
pelo produtor musical Apollo 9 para participar da trilha sonora do filme “O
Cheiro do Ralo”, do premiado cineasta Heitor Dahlia. A partir daí participou de
grandes projetos, como “Les Provocateurs”, com Edgar Scandurra que prestou
homenagem ao cantor francês Serge Gainsbourg, o projeto
“Aurora”, Fernando Cappi, o Chankas, guitarrista do Hurtmold,
foi uma das vocalistas do projeto “3naMassa”, com Dengue e Pupilo do
Nação Zumbi e Rica Amabis.
DVD “Amigos Invisíveis” de Edgard Scandurra, fez parte da coletânea
“Literalmente Loucas (Elas cantam Marina Lima)”, gravou a música-tema do filme
“Abismo Prateado” de Karim Ainouz, dividiu o palco do VMB da MTV com Marina
Lima e do Trip Transformadores com Luiz Melodia e Wilson das Neves; participou
da gravação do programa Som Brasil (Globo), da coletânea “Re-trato”,
disco-tributo ao Los Hermanos, da coletânea “Mulheres de Péricles”,
disco-tributo a Péricles Cavalcanti, e da segunda temporada do programa
Cantoras do Brasil (Canal Brasil), em homenagem a Vinicius de Moraes. Além dos
seus dois elogiados discos: “Journal de Bad” e “É o que
temos”, que ela ganhou o Prêmio Multishow de melhor versão.
turbulento, agressivo. Polaridades disparam em radicais opostos para chocar-se
de frente. Tudo está em xeque: comportamentos, ideologias, gêneros, classes
sociais, estéticas, pontos de vista. O ano é uma catarse de emoções e elas vêm
intensas, contraditórias, díspares, em bando.
bateria corta o horizonte sonoro, passeando pelas peças de seu instrumento numa
lenta e didática virada que ao mesmo tempo em que testa a sonoridade de cada
tambor e anuncia a suspensão da realidade para um anúncio importante, como um
juiz da realidade que apita “tempo” para que possamos prestar atenção em um
detalhe. Ao concluir no bumbo, a virada passa a contar o tempo num lento e
hipnótico compasso bate-estaca em câmera lenta, perseguido por um baixo
cúmplice e cordas dramáticas, que funcionam como base para um riff discreto e
reverente, que reforçam o pedido de atenção exigido pelo ritmo com doses de
elegância e reverência.
surge solene e séria, como se dispusesse a se tornar arauta deste ano
turbulento. “Nesse tumulto de emoções”, canta quase conversando, antes de mudar
drasticamente o ponto de vista do ouvinte, “que se chama ‘eu’, quero uma liteira
que me carregue pra longe do meu coração para mantê-lo hermeticamente fechado,
isolado da dor, imune. ”
ser dissipada como uma manteiga cortada por uma faca quente – a guitarra que
acaricia arabescos entre a surf music e o western spaghetti, pista de pouso
para um teclado que repousa, a cada verso, acordes de sonho – baixo e bateria,
seguem marcando o tempo e determinando o pulso marcial do início da canção que
abre o terceiro disco de Bárbara.
sei viver à margem. Prefiro ser assim – amando, sofrendo, gozando a vida de
verdade”, Barbara segue implacável como se rogasse uma praga almadovariana
sobre si mesma, aos poucos vai baixando a guarda, ao mesmo tempo em que o ritmo
vai deixando a seriedade de lado para começar a instigar a dança – e ela mesma
vai anuncia que cede à própria fragilidade: “Tentei fugir, fingir que nada se
passava. Inevitável – essa amizade foi longe demais” – ela repete a última
frase vocalizando as vogais e cedendo a um drama teatral que se entrega por
inteiro quando o baixo se pronuncia em primeiro plano, como se acendesse luzes
coloridas traduzidas em cordas de tom épico girando ao redor de um muquifo
escuro que segundos antes era feio, forte e formal como um pub de filme
policial.
“E quanto mais eu me
aproximo, mais colada eu tô”, Barbara atira seu vocal à pista de dança e nos
recebe em um delírio brasileiro de disco music, tecendo uma ponte entre a
música pop e a música popular brasileira que foi abalada pelo surgimento da
geração rock dos anos 80. “Vidrada com o teu sorriso com a cara de besta que
sou” – ela canta o título da primeira canção – “Besta” – de forma quase jocosa,
tirando toda a pseudosseriedade do início da faixa e exorcizando completamente
as tensões do ano de seu lançamento.
introdução a Frou Frou, um disco fútil e volúvel à primeira vista, que esconde
exatamente essa necessidade de criar um hiato ou um aposto que consiga nos
isolar da enxurrada de animosidade que convivemos diariamente. Bárbara Eugenia
vem elegante como um trocadilho dadaísta, mas sua raiz é passional, quente,
latina, novelesca. Ela abre uma fenda interdimensional para um universo
minusculo, um inferninho discothèque abrasileirado que daria continuidade à
casa noturna carioca Noites Tropicais ao misturar as atmosferas de um Studio 54
à brasileira com todo o espectro emocional de programas de calouros e da
Discoteca do Chacrinha nos anos 80. “Eu bem que sabia que isso era uma cilada”,
ela confessa num momento de pausa da canção, “eu tinha certeza, mas adoro uma
roubada” – e aí entra um sax rasgando tudo, tão clichê, autorreferente e eficaz
quanto os “uh uhs” que fazem a canção retomar o tom solene inicial. Mas aí já
era. Toda pose foi desfeita e o que parecia arrogância era só a própria
insegurança esparramada em um comentário irônico e sério sobre este 2015. Com
um risinho no canto da boca, piscando discretamente um dos olhos, ela nos pede
um favor: “Menos, galera. ”
disco – e algumas faixas da segunda metade – traz outros exemplos desse campo
de força criado ao redor de uma pseudofutilidade. “Vou Ficar Maluca” parece
ecoar “Penny Lane” ironicamente, mas o groove puxado pelo piano como o de
“Modern Love” nos devolve à pista de dança do início do disco. Prince e Debbie
Harry se encontram num subúrbio brasileiro em “Pra Te Atazanar”, dobradinha com
o arisco Rafael Castro (que também atravessa 2015 em fase dance) que nos dá uma
explicação impossível de ser rebatida: “Por quê? Porque sim. Porque cismei com
você. Por quê? Porque sim. Porque pirei, ” enquanto os dois nos levam madrugada
adentro aos limites de uma relação afetada e paranoica. Mais adiante ela
derrete-se blueseira cabaret no pé na buda de “Ai Doeu” que parafraseia Lulu
Santos (“Tudo passa, tudo sempre passará”) bem temperada de órgãos elétricos,
meio como os blues de Paul McCartney, que misturavam os sentimentos mistos das
dores de cotovelo de Wanderléa com o andamento pesado da banda de Janis Joplin.
composta pelo líder do Cidadão Instigado, o guitarrista Fernando Catatau,
talvez seja
um dos grandes momentos de Frou Frou. Bárbara já conhecia a canção
desde antes do lançamento do disco Uhuuu, que a banda cearense lançou em 2009,
e ao ver que ela não havia entrado nem naquele disco nem no Fortaleza, lançado
este ano, chamou a responsabilidade para si e gravou uma canção romântica
perfeita para ser tocada nas rádios brasileiras dos anos 70 e 80, uma música
que Roberto Carlos, Fagner e Odair José provavelmente gostariam de tê-la
escrito. Mesmo com seus “papapa” e “tchururu” próprios do pop brasileiro,
“Recomeçar” também passeia pela pista de dança que aos poucos vai tomando conta
do do disco em um breque que aponta para os momentos disco music do disco The
Wall do Pink Floyd. “Vamos parar algum momento pra recomeçar”, lamenta e
confessa uma das músicas mais firmes de Fernando Catatau, “partir do princípio
de quando nosso olhar se encontrou. ”
“Para Curar o Coração” reúne comadres – Andreia Dias, Blubell, Andrea Merkel,
Claudia Dorei e Naná Rizini – para repetir uma frase em português entreouvida
por um acaso num mantra cantado em tibetano – e funciona como uma vinheta de
transição para a segunda metade do disco, que deixa seu lado hedonista e
porraloca em segundo plano para entrar numa internalização a respeito dos
próprios sentimentos.
outro ponto alto do disco, a delicada “Ouvi Dizer”, composta com o compositor
Peri Pane – que faz um dueto com Bárbara na gravação – e o poeta Arruda, que
contrapõe Pasárgada e Atlântida como ideais de utopias coletivas, refletindo
sobre sua efemeridade num arranjo quase oriental. A versão para “Cama”, de Tatá
Aeroplano, outro velho conhecido da cantora, assume outro holofote do disco, ao
levar a canção de amor impulsivo e obsessivo naquele limite entre o hard rock e
o rock progressivo, puxando a eletricidade no talo para amplificar ainda mais a
birra original da música. Como na música de Catatau, Bárbara encarna o
protagonista originalmente masculino da canção sem o menor estranhamento,
trazendo completamente as músicas para o coração feminino.
a primeira música composta em inglês do disco, retoma o tom dançante e
aparentemente fútil do disco, chacoalhando-se retilínea entre a new wave e o
pós-punk, a Gang 90 e o Gang of Four. A beatlesca “Tudo Aqui” equilibra as duas
metades do disco à medida em que ele vai chegando perto do final. A faixa ecoa
o trabalho anterior de Bárbara – o subestimado duo em inglês Aurora, que gravou
ao lado de Fernando “Chankas” Cappi, do Hurtmold – e foi a primeira canção que
ela compôs na guitarra, logo que começou a aprender a tocar o instrumento, uma
mudança nas apresentações ao vivo.
Seu Amor” – com o cantor Pélico fazendo backing vocal ao lado dos outros
integrantes de sua banda – e aos poucos vai fazendo o sol do disco se por,
depois de apresentar-se com um riff de guitarra glam rock. A sonhadora “Baby”,
também em inglês e levada no ukulele, antecipa uma noite leve e tranquila,
completamente diferente daquela em que começamos o disco. O disco termina com a
música-tema, uma faixa instrumental que ela compôs em Lumiar para um pinheiro
chamado Carvalhão (pois é). “Frou Frou” encerra o disco que batiza da forma
mais sessão da tarde possível, liberando a banda que a acompanha para farrear à
vontade, com vocais divididos com Tatá Aeroplano.
essencialmente pelo guitarrista Davi Bernardo, o baixista Jesus Sanchez e o
baterista Clayton Martin, que coproduziu o disco ao lado de Bárbara, sugerindo
instrumentos, virando músicas do avesso e compondo riffs. Ao redor dos três, um
contingente de músicos de primeira desfila pelas faixas do disco – do piano de
Dudu Tsuda ao minimoog do Astronauta Pinguim, passando pelos teclados de Pedro
Pelotas, João Leão, André Whong e Dustan Gallas, o violão de Regis Damasceno, o
sax de Dharma Samu e o baixo de Diogo Valentino.
astral, que funciona como um refúgio para o excesso de tensão deste ano. Uma
brecha aberta com gosto, que nos convida para a fuga. Siga aquela garota!
cantora? Deixe seus comentários.
trabalhos dela. É incrível essa sensação, sempre que ouço um trabalho novo da
Bárbara, ela me surpreender como cantora,
ela é uma caixinha de surpresas boas! Acompanhe o trabalho dela:
novo trabalho da cantora e deixo vocês para curtirem também. Beijos e abraços
para todos, @maahmusic